Andréas Müller
A dedicação dos cristãos
para com os
pobres, para com os privados dos seus
direitos, para
com os explorados é
determinada essencialmente pela imagem
que os
mesmos têm de Deus. O Deus da Bíblia não é um ser abstrato, além
das
nuvens, mas está sempre ligado ao destino
dos homens; Ele não
está desligado da nossa
história, mas pode ser só sentido nas
Suas
relações para conosco. É diferente do
mundo, mas não pode
ser separado daquilo
que faz o mundo tanto belo como, ao
mesmo
tempo, cruel.
O segredo de Deus
aclara-se na Sua
encarnação, no Seu esgotamento total – até
à
morte violenta. Se seguirmos as pegadas
deste Jesus de Nazaré
reconhecemos, em
certa medida, o que Deus quer ser: um
Deus que se
preocupa por relações vivas –
pai, mãe, amigo; um Deus de
dedicação,
ternura e preocupação; um Deus como
homem entre
homens – um desalojado, um
refugiado, um estrangeiro, um
perseguido e
um torturado.
Ser cristão pode
parafrasear-se concisamente
por seguir as pegadas de Jesus, isto
significa
que nós deveríamos ser como Deus: seres
humanos entre
homens; seres humanos que
– como Jesus – se devem opor a todas as
injustiças, dedicar-se cordialmente a todos
os que têm fome e que
estão doentes,
devem estar fraternalmente junto de todos
os
pequenos e pobres. Deus quer que nós
aqui na terra sejamos a sua
imagem, o seu
monumento, os seus representantes. Isto é
válido
para todo o ser humano, mesmo se
tem uma face esfarrapada e
destruída, se
não tem um grande renome e se vive numa
favela.
Vale também quando nos parece que
não se sente nada de divino
nele. É a razão
por que devemos procurar Deus nos
nus,
prisioneiros, esfomeados, mortos,
estrangeiros, desalojados,
exilados etc.
Deus
se identifica com os
sem direitos e sem
perspectivas. Quer dizer-nos com isso que ele é
um Deus da vida que quer o direito e a
vida do ser humano.
Francisco
entendeu isso como quase
ninguém. Foi o fatal encontro com o
leproso
que lhe abriu os olhos cegos. A cara
dolorosa do
Crucificado hoje olhou para
ele. Foi a mudança decisiva na sua vida
com
consequências sustentáveis. “O que me
pareceu amargo se
converteu em doçura da
alma e do corpo“.
O termo italiano - quase
impossível de
traduzir – de Dolcezza significa ternura,
empatia,
compaixão, solidariedade. A
Francisco abre-se-lhe um mundo novo, um
mundo do amor ao próximo. O seu mundo
antigo desmorona-se, o mundo
no qual há
encima e em baixo, senhores e servos. Ele
reconhece que
este não pode ser o mundo
verdadeiro, o mundo como Deus o
queria.
Descobre o Evangelho como alternativa.
Um mundo reconciliado
no qual o valor dos
homens não dependa do rendimento ou do
salário.
Um mundo, no qual possamos
simplesmente usar a riqueza de Deus na
Criação. Pois, um mundo no qual também
os pobres possam
participar na vida em
plenitude.
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