quarta-feira, 22 de junho de 2011

Deus e os pobres

   

Andréas Müller 




   A dedicação dos cristãos para com os pobres, para com os privados dos seus direitos, para com os explorados é determinada essencialmente pela imagem que os mesmos têm de Deus. O Deus da Bíblia não é um ser abstrato, além das nuvens, mas está sempre ligado ao destino dos homens; Ele não está desligado da nossa história, mas pode ser só sentido nas Suas relações para conosco. É diferente do mundo, mas não pode ser separado daquilo que faz o mundo tanto belo como, ao mesmo tempo, cruel.
   O segredo de Deus aclara-se na Sua encarnação, no Seu esgotamento total – até à morte violenta. Se seguirmos as pegadas deste Jesus de Nazaré reconhecemos, em certa medida, o que Deus quer ser: um Deus que se preocupa por relações vivas – pai, mãe, amigo; um Deus de dedicação, ternura e preocupação; um Deus como homem entre homens – um desalojado, um refugiado, um estrangeiro, um perseguido e um torturado.
   Ser cristão pode parafrasear-se concisamente por seguir as pegadas de Jesus, isto significa que nós deveríamos ser como Deus: seres humanos entre homens; seres humanos que – como Jesus – se devem opor a todas as injustiças, dedicar-se cordialmente a todos os que têm fome e que estão doentes, devem estar fraternalmente junto de todos os pequenos e pobres. Deus quer que nós aqui na terra sejamos a sua imagem, o seu monumento, os seus representantes. Isto é válido para todo o ser humano, mesmo se tem uma face esfarrapada e destruída, se não tem um grande renome e se vive numa favela. Vale também quando nos parece que não se sente nada de divino nele. É a razão por que devemos procurar Deus nos nus, prisioneiros, esfomeados, mortos, estrangeiros, desalojados, exilados etc.
   Deus se identifica com os sem direitos e sem perspectivas. Quer dizer-nos com isso que ele é um Deus da vida que quer o direito e a vida do ser humano. Francisco entendeu isso como quase ninguém. Foi o fatal encontro com o leproso que lhe abriu os olhos cegos. A cara dolorosa do Crucificado hoje olhou para ele. Foi a mudança decisiva na sua vida com consequências sustentáveis. “O que me pareceu amargo se converteu em doçura da alma e do corpo“. O termo italiano - quase impossível de traduzir – de Dolcezza significa ternura, empatia, compaixão, solidariedade. A Francisco abre-se-lhe um mundo novo, um mundo do amor ao próximo. O seu mundo antigo desmorona-se, o mundo no qual há encima e em baixo, senhores e servos. Ele reconhece que este não pode ser o mundo verdadeiro, o mundo como Deus o queria. Descobre o Evangelho como alternativa. Um mundo reconciliado no qual o valor dos homens não dependa do rendimento ou do salário. Um mundo, no qual possamos simplesmente usar a riqueza de Deus na Criação. Pois, um mundo no qual também os pobres possam participar na vida em plenitude.

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